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Rastreio na cadeia têxtil garante sustentabilidade da semente do algodão ao guarda-roupas

Em entrevista ao Carbon Report, o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, fala sobre os desafios da descarbonização desde a produção agrícola do algodão ao produto final

Mariza Louven

O principal desafio da descarbonização da produção do algodão é a redução do uso de fertilizantes nitrogenados na etapa agrícola, afirma o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel. No entanto, os mercados exigem, cada vez mais, que a redução da pegada de carbono ocorra em todas as fases da cadeia produtiva, tornando a rastreabilidade uma peça-chave da moda sustentável e de baixo carbono.

Não basta ser o maior produtor mundial de algodão sustentável. É preciso comprovar, por meio da certificação da origem, desde a semente usada na agricultura até o guarda-roupas do consumidor, acrescenta Alexandre Schenkel.

Segundo ele, a certificação passou a ser fundamental para atender à demanda de clientes cada vez mais exigentes e com visão de responsabilidade socioambiental. Muitos países também já estabeleceram metas de utilização de produtos sustentáveis e rastreáveis, como a União Europeia, a Grã-Bretanha e o Japão.

A rastreabilidade e a sustentabilidade andam juntas na indústria têxtil e são estimuladas por iniciativas como a SouABR, implementada pela Abrapa em 2021, em parceria com grandes varejistas do país (Reserva, Renner, C&A etc.). Por meio desse programa, foram produzidas coleções 100% rastreáveis, da semente ao guarda-roupas, informa.

Com o uso, até então, inédito da tecnologia blockchain, o SouABR permitiu que o consumidor final pudesse, com o seu celular, ler o QR Code do produto e acompanhar o passo a passo da peça desde a lavoura. Esta iniciativa virou um case de sucesso pioneiro no mundo. Na visão dele, isso prova o compromisso dos cotonicultores brasileiros com a sustentabilidade e a transparência. A Abrapa participa mês que vem do seminário “Agro em código”, em que o case resultante da iniciativa SouBR será apresentado.

Cultivo da fibra movimenta US$ 40 bilhões por ano

O cultivo da fibra do algodão movimenta cerca de US$ 40 bilhões por ano, segundo a Abrapa. O Brasil é o segundo maior exportador mundial de algodão, atrás apenas dos Estados Unidos. Embora também seja considerado o maior fornecedor global do produto sustentável, precisa provar esta condição para não perder competitividade.

A proporção de algodão sustentável em relação ao total é de 82%, segundo a Abrapa, que certifica o produto com o selo Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Este programa que opera em benchmark com a Better Cotton (BCI).

“O ABR garante que o produto vendido do Brasil está em conformidade com as leis trabalhistas e ambientais brasileiras, além de atestar o uso de boas práticas agronômicas nas lavouras. Mesmo com a segurança de auditorias independentes, a Abrapa segue investindo no programa de certificação ABR, avaliando a adoção de novos indicadores de sustentabilidade para a cadeia, de modo a atender os anseios dos clientes e sociedade”, acrescenta.

A estimativa é de que o Brasil alcance 3,23 milhões de toneladas de algodão na safra 2022/23, dos quais 2,4 milhões de toneladas serão exportadas no ano comercial 2023/24. Confirmadas, essas previsões significariam um aumento de quase 26,5% em relação ao ciclo anterior.

“Trata-se de um resultado direto da visão de futuro do cotonicultor e das suas associações, bem como de instituições de pesquisa públicas e privadas, além das empresas de desenvolvimento e tecnologia do setor. Desde que foi introduzido e adaptado para o Cerrado, para onde a cultura migrou no fim dos anos 1990, a cotonicultura brasileira vem se desenvolvendo de forma exponencial e este crescimento se dá de forma organizada”.

Na etapa agrícola, desafio são os fertilizantes

O principal desafio para a descarbonização da produção do algodão está na otimização do uso dos recursos na lavoura, principalmente no que tange ao uso de fertilizantes nitrogenados, responsáveis por mais de 50% das emissões de gases de efeito estufa na fase de produção agrícola. Para isso, segundo ele, seria “importante desenvolver e empregar produtos com menor potencial de perdas por volatilização ou lixiviação. Adicionalmente, continuar avançando no uso da agricultura de precisão, para garantir que este e outros insumos sejam disponibilizados na quantidade e no momento corretos, buscando o máximo aproveitamento pelas plantas.”

A Abrapa apoiou a realização de um estudo que identificou 27 práticas agrícolas inteligentes implementadas por produtores brasileiros certificados pelo programa ABR e licenciados pela Better Cotton (BCI) no país, que contribuem para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas.

Segundo o presidente da Abrapa, a difusão das boas práticas depende de ações de extensão rural, o que já acontece hoje, tendo como vetores as instituições financiadas pelo setor, além de empresas privadas e de órgãos públicos de pesquisa e extensão, como a Embrapa. Isto tem ganhado corpo, com a estruturação de ferramentas de políticas públicas, como os programas de financiamento por linhas de crédito no escopo do Plano ABC, e pode ser impulsionado ainda mais, com o estabelecimento de programas privados que possam recompensar as boas práticas certificadas. O mercado de carbono certamente vai acelerar a adoção dessas práticas.

As principais práticas citadas pelo presidente da Abrapa são o plantio direto, a rotação de cultura, as culturas de cobertura, o controle biológico e microbiológico, o gerenciamento de subprodutos e resíduos. São técnicas adotadas por todos os produtores certificados pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), mas em níveis diferentes. “O que temos incentivado, por meio dos institutos de pesquisa, é a qualificação dessas práticas que trazem um efeito positivo para o planeta e contribuem para a melhor produtividade e resiliência da cultura do algodão.”

Etapa industrial deve focar a transição energética

Em termos globais, a indústria têxtil emite 4,4%, segundo estudo realizado pela McKinsey em 2020. Como o algodão representa menos de um quarto da matéria-prima utilizada pela cadeia produtiva, os produtos de algodão emitem menos de 1% dos gases de efeito estufa do planeta, afirma Schenkel. O cultivo, então, emite ainda menos, diz ele. Representa apenas entre 15% e 20% das emissões da cadeia têxtil.

De acordo com ele, se o fertilizante pesa mais na etapa agrícola, a forma mais eficaz de reduzir as emissões de CO2 “depois da porteira” é alterar a fonte de energia atual da indústria para energias renováveis.

Compliance da sustentabilidade

A certificação e o rastreio são fundamentais para atestar que a cadeia produtiva tem compliance em seus processos. Por ser um selo individual, exigir demonstração e ter auditoria externa, as informações podem ser verificadas a qualquer momento, garantindo sua idoneidade.

“Claro que este trabalho tem um custo”, diz ele. Porém, ao obter este status, os produtores têm mais opções de venda e podem receber um prêmio ao vender seu produto.

Para o mercado têxtil, o acesso a produtos certificados é cada vez mais importante. Além de atender à demanda de clientes cada vez mais exigentes e com visão de responsabilidade socioambiental, muitos países têm metas que exigem a compra de produtos certificados, como a União Europeia, a Grã-Bretanha e o Japão, que já exigem de suas indústrias a utilização de itens rastreáveis desde a origem e certificados por sistemas reconhecidos.

Custo de demonstrar esta captura de CO2

No Brasil, o mercado de créditos de carbono ainda tem pouco potencial para catalisar mudanças na produção agropecuária, comenta. Primeiro, diz ele, porque a capacidade de acumular carbono em clima tropical, versus o custo de demonstrar a captura do CO2 ainda não são recompensadores, para a maioria dos casos.

Segundo, diz ele, porque o setor cotonicultor lidera o uso de boas práticas agropecuárias, dificultando a venda de carbono por adicionalidade, que é aquela que remunera pela emissão de carbono evitada pelas boas práticas quando, comparada com o universo regional. No entanto, mesmo não sendo impactada diretamente pela remuneração do carbono, a produção agrícola de algodão vem sendo demandada pela indústria, que, por sua vez, tem sido diretamente cobrada pela sociedade e entidades como os parlamentos europeu, britânico e japonês, que exigem do setor redução de 10%, 15% e 20%, respectivamente, até 2030.

“Esta demanda traz perspectivas de um pagamento adicional para o produto ofertado, com o cálculo da pegada de carbono reduzida. De olho neste mercado, alguns grupos brasileiros começaram a investir no levantamento de dados e na rastreabilidade da informação.”

No Brasil, especificamente, os representantes do setor entendem que, antes de estabelecer metas, é importante conhecer com precisão os indicadores de emissão de gases de efeito estufa e validar cientificamente o que pode ser mitigado através de boas práticas aplicáveis.

Fonte: Carbon Report

Author

ampasul

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